domingo, 19 de abril de 2009

Making of da reportagem: parte I

Os professores passaram um trabalho muito legal para a turma fazer: transformaram-na numa redação de jornal, dividida em editorias, onde cada pessoa é responsável por uma reportagem. A experiência é incrível. Eu entrei para o jornalismo por causa da pluralidade de opções de trabalho dentro da área, mas uma coisa que eu não me via fazendo era justamente trabalhando numa redação de jornal. Os próprios professores não cansam de dizer que é muito difícil achar emprego numa redação e que o jornalismo está cheio de outras opções, então eu sempre pensei que trabalharia em alguma outra coisa. Mas devo dizer que desde que comecei a faculdade venho gostando cada vez mais dessa história de ser repórter. É muito mais legal do que pensei.
Bom, como eu havia dito, a turma foi dividida em editorias. A princípio cada um podia escolher a sua, desde que não passasse de seis pessoas por editoria. Eu fiquei tentado a escolher Cultura, porque era a mais divertida na minha opinião, mas desde muito tempo venho pensando em escrever algo sobre o arroz transgênico. Deixe-me explicar: fui voluntário do Greenpeace por pouco menos de um ano, e durante o tempo em que fiquei lá a campanha que mais trabalhamos foi a de Transgênicos. Ao contrário de campanhas como a preservação da Amazônia e contra o aquecimento global, que são meio que consensos, o uso de transgênicos é algo muito polêmico justamente por não haver unanimidade. Mas o maior problema é a falta de informações que a população tem sobre o assunto. Eu mesmo sabia muito pouco quando entrei para o Greenpeace, mas tive que aprender rápido para poder trabalhar com a campanha.
Uma das coisas que eu aprendi foi que transgênicos, ao contrário do que todo mundo pensa, são resistentes a agrotóxicos, e não a pragas. O que mata as pragas são os agrotóxicos que os transgênicos aguentam e as plantas normais não. A maior parte das pessoas pensa que não é assim, e com um bom motivo: elas são ensinadas errado. Lembro de uma aula de Biologia no cursinho em que a professora disse com todas as palavras que os transgênicos eram resistentes a pragas. Ela, uma professora, passando uma informação enganosa aos alunos! Eu pensei em me manifestar, mas não tive coragem. Em quem os alunos iriam acreditar: em mim ou na professora de Biologia? Não me considero juiz de tudo para dizer que os transgênicos são bons ou maus, mas existem verdades e existem mentiras, e o que ela disse foi uma mentira. Uma mentira que, sendo ela mestra em assuntos biológicos, passa por verdade incontestável. Comecei a pensar porque será que ela disse aquilo. Certamente ela saberia corretamente uma informação tão básica. Trabalharia ela para as empresas de transgênicos, disseminando informações falsas para propagandear o produto? Pode ser viagem minha, mas sei lá. Só sei que fiquei indignado com aquilo.
Um dia desses eu estava na Redenção e encontrei a barraca do Greenpeace. Fui lá cumprimentar meus velhos colegas e peguei um panfleto sobre o arroz transgênico, que estava para ser aprovado no Brasil. Quando li aquilo, me deu uma vontade de fazer uma matéria sobre o assunto, mesmo que fosse só para treinar. Já estava arquitetando a minha matéria: iria no cursinho onde estudei e pediria para entrevistar aquela professora. Colocaria ela contra a parede: afinal, os transgênicos são resistentes a pragas ou não? Se ela respondesse que não, eu diria "ah é? mas como é que nas suas aulas você diz o contrário?". Agora eu não sou mais o aluno: eu sou o jornalista, eu é que tenho a credibilidade.
Então obviamente uni o útil ao agradável e escolhi essa pauta para a minha reportagem. Como fiz ela? Veja no próximo post!

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